• Sunday, May 30, 2021

           


           Ao redor de uma fogueira três garotos olhavam com tédio para as chamas trepidantes, e minuto a minuto um deles suspirava em desânimo, alternando entre si. Eles sabiam que isso iria continuar o dia todo se nada anormal acontecesse. Se nada acontecesse...


           Um dos rapazes, de cabelos castanhos e olhos escuros, leva seu olhar para um ponto um pouco mais longe deles, pois ouvira um som suspeito, de passo. E para sua surpresa havia alguém ali. Com cabelos pretos num penteado difícil de se descrever, uma pele escura e bem cuidada e um vestido verde tradicional de regiões campestres, a mulher que se aproximava não era algo que já tinham visto por ali.


           — Ei, vocês! – ela chama, com uma linguagem mais ordinária. Parecia não estar muito contente. Seria porque eram crianças? – Me mandaram vir aqui treinar três baixinhos que passam o dia coçando o saco. Só podem ser vocês, tenho nem com o que me preocupar. Vocês ao menos são uma guilda? – dispara o que parecia ser um discurso interminável para o trio pouco comunicativo.


           — O que é uma guilda? – um deles, de cabelo vermelho em cuia, questiona.


           — Sei lá. – responde um que tinha escassos fios na cabeça e olhos expressivos.


           — Guilda não é meio que uma organização composta por pessoas com algum interesse comum que fazem "missões" por aí? – o que primeiro havia notado a mulher diz.


           — Pelo visto não são... – exasperada, ela diz. – Mas ao menos um de vocês sabe o que é. Mas bem, a grande sacada aqui é que vocês três, pirralhos, vão ter que lutar contra membros de uma guilda famosa, a [ Couronne d'Insecte ], e isso vai ser a primeira pedra grande no caminho de vocês, seus três patetas.


           — O jeito que ela fala me irrita. – resmungou o de poucos cabelos.


           — Deixa entrar por um ouvido e sair pro outro se não achar interessante. – resmunga de volta o castanho.


           — Isso que chama de guilda... – começa o ruivo. – Eles ser fortes? – com um sotaque quebrado.


           — O suficiente para sua força ser reconhecida não só por toda a região de Kalos, mas até além dela. – respondeu a mulher, com seriedade tamanha.


           O ruivo simplesmente abaixou a cabeça e sorriu de leve enquanto semisserrava os seus olhos que já naturalmente tinham pálpebras mais fechadas. Os outros dois, enquanto isso, fecharam um pouco a cara, pareciam não gostar do que ouviram.


           — Se são fortes assim a gente só vai ir lá pra apanhar. – fala aquele dos olhos de muita expressão.


           — Não se treinarem comigo! – disse a moça. – Enquanto eu, Amanda Woods, estiver lhes treinando, garanto que vocês vão chegar longe. Além disso, batalhas entre guildas normalmente ocorrem entre participantes níveis similares. – adicionou.


           Os três meninos ficaram olhando o fogo trepidando sem responder, e assim permaneceram algum tempo.


           — Você acha mesmo que a gente vai acreditar em tudo que você disse, sendo que mal conhecemos você, senhorita "Amanda Woods"? – o moreno questiona, com o final saindo meio zombeteiro.


           — Sim, com certeza. – responde a mulher sem a menor vergonha na cara.


           O jovem suspira, olha pros seus dois companheiros, e diz:


           — Parece que temos um treinamento a fazer, então se levantem daí, de preferência no melhor estado mental que puderem. – então dirigiu o olhar a Amanda. – Senhorita, pode me chamar por agora de Goon, ao alaranjado de Iri e ao outro de Duster.


           A mulher sorri, faz um gesto para que a sigam e embrenha mato adentro. Sem hesitação, os três a seguem.


           ...


           — Eu não aguento MAIS! EU TÔ CANSADO! EU TÔ DECIDIDO! NÃO VOU MOVER UM PASSO SEQUER DAQUI! – berra Duster ao se sentar num toco.


           Os outros dois garotos suspiram exasperados. Eles também estavam cansados, mas nada que justificasse o show que o outro estava dando. O rapaz de poucos cabelos sentado num resto de tronco retira de algum lugar uma linha e começa a fiar algo. Iri e Goon se entreolham e dão de ombros, e vão até Amanda, que se encontrava sentada numa cadeira conversando com uma jovem, de cabelos escuros lisos e pele qual bronze. Esta vestia algo que parecia uma camisa de marinheiro preta e uma saia plissada de cor idem. Usava em ambos os pulsos pulseiras douradas em forma de um círculo perfeito, tal qual usava tornozeleiras de mesmo gosto. Por fim, uma tiara com um aro dependurado até o nível da testa ornava sua cabeça, e seus pés eram calçados por um sapato baixo semi-aberto. Ela viera ajudar no treinamento, e sua força certamente era longe de qualquer coisa que já haviam visto.


           — ... Visto isso, acho que foi produtivo o dia, eles mostraram algum entendimento. Você concorda não é, srta. Flauclaws? – é o que os rapazes conseguem ouvir Amanda perguntar a outra ao se aproximarem.


           — Não sei dizer no momento, e, além disso, temos companhia. – disse a jovem apontando com a cabeça para os dois que vinham. Ao ver que já estavam a uma distância razoável para conversação, ela começa. – Precisam de algo? Algum de vocês tem alguma questão sobre o treino de hoje?


           Quem responde é Goon.


           — Não, a gente só estava entediado mesmo, e achamos melhor vir aqui falar algo útil, como sobre guildas, por exemplo. Afinal, o que a gente precisa pra ser reconhecido como uma? – ele fala.


           Flauclaws o olha com um olhar assertivo, como se parabenizasse ele por ter vindo perguntar, enquanto Amanda seguia observando.


           — Como você deve saber, as Guildas tem uma estrutura organizacional própria, um funcionamento de sociedade com regras claras e funções a serem assumidas. Quando um grupo consegue atingir isso, e é reconhecido por tal, você tem o surgimento de uma guilda. – a de preto responde, seus olhos vermelhos encarando os rapazes em busca de uma reação.


           Goon e Iri param, pensativos, então acenam a cabeça, agradecem e vão de volta para o local onde deixaram Duster. Amanda e Flauclaws observam os dois indo sob a luz do fim da tarde, sorrindo pensando na semente que havia sido plantada ali.


           ...


           — Isso... Sério? – diz o ruivo, com um choque raro em sua expressão.


           — Infelizmente, parece que é. – o moreno fala com os olhos esbugalhados.


           Ambos estavam parados de frente pra onde Duster havia ficado. Ali já não havia mais um rapaz, mas sim um charuto de cobertor branco deitado ao chão. A única coisa que permanecia do amigo era um pedaço do rosto, numa das extremidades.


           — Mundo cruel e triste, cobertor macio e quentinho... – murmurava ele.


           Iri e Goon grunhem de cansaço com isso. Já era a quarta ou quinta vez que o outro resmungava essas palavras.


           — Vamos lá, Duster. Você sabe que tu não é assim. Você está com a gente pra poder fazer algo de si , não é? Tu tem que sair dessa! –Goon, urgindo o companheiro.


           Iri apenas observava, sem falar nada, não parecia saber o que fazer ali. Enquanto isso, Duster fazia ouvidos mocos para aquele que tentava lhe convencer, e continuava murmurando.


           — Olha, eu sei que as coisas não tão maneiras, e que treinar é um saco. – prosseguia o moreno. – Mas se tu não se mover, mano, tu não vai ser nada! Só pensa nisso.


           Nada de resposta. Goon respira fundo e se vira, em desistência. Iri, então, se move e vai até a frente do que estava no chão.


           — Você... Dever se achar demais... Não é? Egoísta você... Fechar portas porque não querer passar dificuldade... Esquecer que pessoas preocupam com você. Você... Egoísta. – fala para Duster, e então se retira para um canto, onde vai deitar.


           O rapaz em charuto no chão não resmunga dessa vez, e fica calado pelo resto do dia, envolto pelo som do ronco de seus companheiros e pelo silêncio da noite.


           ...


           — Se levantem, vocês dois! A gente tem treino, não? – animado, alguém começava a manhã.


           Iri e Goon abriram seus olhos e levantaram ainda meio tontos. Mas o que viam em sua frente era espantoso o suficiente para fazer com que todo sono e tontura fossem levados pra longe.


           Era Duster, sorrindo de orelha a orelha, de pé. Nas suas costas agora haviam asas verde e marrom tendo a forma de um B com picotes. Também estava mais alto e com a expressão um pouco mais madura, e tinha ganhado um pouco mais de cabelo. Em sua cabeça algo que pareciam duas antenas também eram alvo de atenção, tal qual suas roupas, que agora consistiam de uma camisa cinza escuro com uma listra clara e calças com três tons de marrom.


           — Okay... Tudo certo... – era o que Goon conseguia murmurar.


           Iri encarava Duster diretamente, e este, notando isso, se aproxima e o abraça, dizendo baixo.


           — Obrigado, amigo.


           O ruivo sorri singelamente, e responde, com seu sotaque quebrado:


           — Não há de quê... Amigo.



    { 4 comments... read them below or Comment }

    1. Oi oi Napo. Me parece um capítulo introdutório da guilda bem interessante. Os três pokémons são realmente três patetas, mas até que combinam juntos. Gostei que você tenha se lembrado de explorar a diferença de língua do Iri e muito mais da evolução do Duster. Os demais julgaram mas tenho certeza que todo mundo no fim de um dia difícil quer fazer igual a ele: Se enrolar num cobertor macio e quentinho.
      Não consegui identificar os pokémons que representavam as treinadoras. Talvez pq faz um tempo que li Kalos ou pq vc quis mesmo introduzir uns personagens random, mas que bom que elas apareceram ou esses três poderiam levar uma surra.

      ReplyDelete
      Replies
      1. Boa tarde, Carol. Complicado que eu tô devendo o capítulo 2 da guilda ainda. Assim, eu tentei fazer o máximo no mínimo, e parece que ficou ok. E não, julgar o Duster é algo absurdo mesmo, quem pode resistir a um cobertor quentinho ?

        E os pokémon das treinadoras nunca foram diretamente mencionados na história principal, por isso decidi introduzir na guilda. Dá um toque meio de mistério quanto a quem é de quem, apesar de quem acompanha talvez consiga identificar, assim como alguns dos outros autores né.

        Espero conseguir fazer mais um pouco sobre a guilda. Até depois!

        Delete
    2. Não consegui decifrar quem é quem, mas gostei muito! Otimo capitulo para introduzir a Guilda!

      ReplyDelete
      Replies
      1. Bem, em parte foi de propósito ficar meio difícil a identificação, mas logo mais você descobre certinho!

        Te espero mais vezes aqui!

        Delete

  • Copyright © - Nisekoi - All Right Reserved

    Neo Pokémon Kalos Powered by Blogger - Designed by Johanes Djogan