Capítulo 10 ( ? ): Cidade da Luz II
Antes de parar de escrever Neo Kalos, estava com um capítulo grande pela metade, e considerando a qualidade dos capítulos de Kalos como em decadência, acabei deixando-o incompleto mesmo. Como o pessoal da Neo me manteve com acesso ao blog, achei interessante publicar o beta ( ? ) do capítulo. Nos últimos 30-40 minutos ( agora são aproximadamente 1:40~1:50 am ) terminei o que faltava nele, então a partir de um determinado ponto provavelmente haverá uma mudança no estilo de escrita, provavelmente mais direto, mas não importa muito. Fiquem então com o que era pra ser o capítulo 10.
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Pelas ruas da cidade iluminada, onde o antigo e o moderno se misturavam de forma indescritível, um rapaz andava, pensativo. Ele, Xavier, batalhou contra o famoso professor Sycamore numa luta-teste e acabou por sair vitorioso. Com isso, recebeu alguns benefícios advindos de um acordo que fizera com este. Compensação monetária e acesso antecipado a informações foram algumas das coisas que recebeu. Porém, o ganho mais importante talvez fosse o objeto que estava agora em seus bolsos. Uma esfera bicolor, dita pokébola, contendo um espécime raro. Não era apenas isso, porém, que lhe deixava em contemplação.
Após o ocorrido, no primeiro andar do prédio do laboratório, quando se preparava para sair, se encontrou com ninguém mais ninguém menos que um dos homens mais ricos e poderosos de Kalos, senhor de muitas indústrias e dono de uma exuberante juba vermelho-alaranjada. Xavier não conseguia crer que o sujeito ao vivo pudesse ser tão mais imponente e regal. Vendo que o rapaz vinha do escritório de Sycamore e portando uma pokédex, o homem parece ter achado interessante conversar um pouco com o rapaz.
Lysandre abordou diversos temas. Falou que pelo jovem ter a oportunidade de portar o objeto isto fazia dele um escolhido, falou de como aprendeu com o professor sobre os pokémon's, de como gostaria de construir um futuro melhor e um mundo mais bonito, assim como observou o poder que o conhecimento trás e que para tornar realidade aquilo que se deseja, é necessário muito trabalho e suor. Por fim, dando seu adeus, o homem lhe entregou um objeto, disse para usar da melhor forma possível, e partiu.
Xavier se espantou, pois o objeto não era uma coisa qualquer, mas sim o Holo Caster, um comunicador holográfico, tecnologia de ponta que cabe na palma das mãos. Extremamente valioso, sua disponibilidade era limitada no mercado mesmo para os mais ricos e aficionados.
Seus pensamentos, entretanto, são interrompidos pelos sons dos auto falantes e pelas luzes dos telões das cidades. As palavras " Notícia Urgente! " podiam ser ouvidas se repetindo ao longo da avenida. Erguendo sua cabeça na direção de um destes, o rapaz arregala seus olhos em descrença.
No telão, um cenário de guerra se apresentava ao público. Várias crateras espalhadas pelo chão além de poeira e pedra para todos os lados. Uma mulher, mui formosa, maquiada e vestida como uma estrela de cinema, se encontrava de joelhos no chão, atônita, olhando fixamente numa direção. A câmera se movimenta, e então duas figuras a mais se fazem presentes na cena. Estirada no solo se encontrava uma criatura humanoide, de cabeça e braços verdes e algo que parecia um "vestido" branco. Em frente a esta, um ser estranho, também humanoide, de aspecto que poderia ser descrito apenas como "a cruza da armadura de um soldado com um esqueleto", com o corpo em cor preta, mas algumas partes em vermelho, amarelo ou prata metálico. Outro corte, outra cena. Neste momento Xavier sentiu como se seu peito fosse explodir. Não podia acreditar no que via. Não era pra menos, pois faziam pouquíssimos dias desde que vira a figura que agora aparecia na tela. Sentado em cima de uma criatura "trípede" de pouco mais de um metro, feita de rochas azuis e cristais vermelhos, um sujeito gargalhava, vitorioso. Com uma barba mal feita, cabelos castanhos e um braço metálico visível aos olhos de qualquer um, apenas sobrava ao rapaz a certeza de que aquele homem era Iroquois Plisquim, o mesmo que encontrara na rota para Santalune.
Enquanto essas imagens eram transmitidas por toda a região, o seguinte áudio as acompanhava: "Nesta tarde o desafiante Iroquois Plisquim chocou o mundo com talvez a mais rápida escalada para o posto de campeão da história de Kalos. Vencendo o desafio da Estrada da Vitória, Iroquois obteve um direito de prata para desafiar a liga, coisa que fez ainda no começo desta manhã. O desafio terminou agora a tarde, com a ex-campeã Diantha sendo derrotada pelo agora campeão Iroquois, que conseguiu fazer tudo isso em menos de três dias, um feito extraordinário que combina força, habilidade e sorte. Não conseguimos entrevistar ainda o novo campeão, mas a Liga emitiu uma nota dizendo que em três dias haverá um pronunciamento oficial."
Após isso, os telões voltaram a apresentar suas respectivas programações usuais. Mas isso não impediu algumas pessoas de seguirem estarrecidas com a notícia. Xavier, com olhos arregalados, se encontrava tendo dificuldades de assimilar as informações. Iroquois, o homem que havia conhecido poucos dias atrás, era o novo campeão da região. Isso não devia ser possível, devia? Por que raios de motivos aquele sujeito estava naquela rota onde se encontraram se ele estava num patamar tão diferente? Muitas perguntas se formavam na cabeça do jovem, que não conseguia resposta para todas. Ficara paralisado com o excesso de pensamentos.
— SAI DO MEIO DA RUA, MOLEQUE! QUER MORRER? EU NÃO TENHO O DIA TODO! VOCÊ TÁ CAGANDO O TRÂNSITO! – Uma voz gritava acompanhada de várias buzinas. Esses sons o tiraram do transe e fizeram com que ele se virasse para a direção em que se originavam. – AH! FINALMENTE OUVIU NÃO É? SAI DA FRENTE ENT- AH! É VOCÊ XAVIER? CHEGA AQUI! QUE COINCIDÊNCIA! LIGA PROS BABACAS ATRÁS DE MIM NÃO! DEIXA ELES BUZINAREM! – Seja lá quem estivesse naquele carro, lhe era familiar e era extremamente volátil.
Se aproximando rapidamente do carro, um sedan quatro portas preto, daqueles de luxo, logo viu pelas janelas do carro uma face familiar. Era um senhor com seus cinquenta ou sessenta anos. Era Jehan, o pai de um amigo da faculdade. O sujeito, sorrindo, aperta um botão no painel do carro, e uma porta logo se abre. Indicando com a cabeça para o rapaz entrar, este não se faz de rogado e entra, apesar de toda a confusão no trânsito que ambos haviam causado.
...
— Então, – Jehan fala, enquanto ao volante. – por qual motivo você não me avisou que estaria vindo pra Lumiose? Eu já falei que se algum dia viesse que você seria bem vindo na casa!
— Eu achei melhor não incomodar porque iria ser uma passagem rápida pela cidade, no máximo um dia. – o rapaz respondeu, ainda meio fora de si.
— Ora, deixa de bobagem! Não é incômodo algum! Aliás... Quem vai ter que te incomodar com algo sou eu.
No momento em que falou essas palavras, o rapaz pôde reparar, pelo retrovisor interno, o semblante do homem fechando, algo que, na experiência dele com o sujeito, era raro.
— Aconteceu alguma coisa com Jules? – deduziu, visto que normalmente, qualquer coisa que preocupasse o velho só poderia ser atribuída a este nome.
O tempo ali pareceu se estagnar.
— Sim, – respondeu, após alguns longos segundos. – aconteceu algo com ele sim. Eu só não parto ele em dois porque eu não posso. Você sabe que ele casou com aquela moça de Kanto assim que se formou, certo?
— Acho que difícil seria não saber depois do caos que eles criaram pra tornar isso possível. Eles não estavam esperando um filho?
— Bem, já que você mencionou, o problema é relacionado a isso.
— Como assim? Tem algum problema com a criança ou algo assim? – o rapaz perguntou, claramente confuso.
Jehan, nesse momento, suspira pesadamente.
— A minha nora, como você deve saber, é de uma família tradicional do interior Kantoniano, muito importantes no setor agropecuário da região. – começou. – Você deve saber que toda família desse porte tem seus inimigos, então mantenha isso em mente. Pouco depois de ele se mudar pra Kanto, como você sabe, a esposa dele engravidou, e na metade desse período ele acabou se aproximando de uma outra moça.
— Não me fala que ele fez o que eu tô pensando, Senhor Jehan, por favor...
— Ele fez justamente o que você está pensando, Xavier. Adivinha quem era a moça? A caçula dos donos de um dos maiores conglomerados pecuários de Johto! Os principais concorrentes deles! – Com uma raiva crescente, desconta batendo a mão direita na lateral do volante, o que fez com que o rapaz nos bancos de trás esbugalhasse os olhos.
Após a explicação, um silêncio se instaurou no carro. Os dois que estavam ali tinham uma expressão carrancuda, claramente com os nervos a flor da pele.
— Como pôde ver, eu não estou com os nervos no lugar para conversar direito com ele. – O mais velho quebra o silêncio. – Não é correto de minha parte pedir isso pra você, principalmente sendo uma de suas raras visitas, mas você poderia conversar com ele por mim?
— Eu não acho que sou a pessoa mais adequada, mas... Por um amigo, o que é uma conversa?
E foi assim que ambos terminaram a conversa. Não muito depois, chegaram ao seu destino.
Um edifício de dois andares, bastante largo. A aparência exterior era meio rústica porém polida, com tijolos vermelhos a mostra e um letreiro neon escrito "Fleur De la Nuit" em letras cursivas. Por fim, um par de portas de metal mui bonitas davam entrada para o recinto.
Ambos Xavier e Jehan saíram do carro e se colocaram em frente à construção. Jehan retira de um dos bolsos uma chave e a insere na tranca da porta para então a abrir. Ambos adentram por esta e se encontram num corredor. De um lado, um lance de escadas descendo para um nível abaixo do térreo; do outro, uma porta trancada, tendo na parede ao lado uma placa com os dizeres " Entrada permitida somente para funcionários ". Para ali seguiram os dois.
Após esta porta, ainda tiveram de passar por mais alguns outros cômodos antes de encontrarem mais um lance de escadas, desta vez levando ao andar superior. Xavier suspira pois sabia que, a partir dali, finalmente estariam na casa de Jehan.
Já dentro da casa, Jehan diz para o mais jovem:
— Sinta-se em casa, você já sabe onde ficam as coisas, então estou indo pro meu quarto organizar as coisas para a noite. – e se retira.
Xavier, então, observa o familiar espaço em que estava. Não havia mudado muito, pois seguia no mesmo estilo rústico porém luxuoso que havia antes. Móveis em madeira de lei, sofás com capa de couro, quadros espalhados pelas paredes.
Após este breve momento de contemplação, o rapaz deixa sua bolsa em cima da mesa de centro e segue para a cozinha. Conhecendo seu amigo e seus hábitos, provavelmente estaria por ali.
Dito e feito. Sentado à ilha de mármore tabaco com um copo e uma garrafa de cognac em sua frente, ali estava o sujeito, de cabeça baixa e com sinais claros de cansaço.
— Jules Damiano! – falou o rapaz, para chamar atenção do outro. – Bebendo a esta hora?
O homem, então, ergue a cabeça e torna suas feições visíveis. Olhos caídos, rosto fino, barba rala. Talvez essas fossem as características mais marcantes do rapaz, que também ostentava cabelos ondulados num corte curto.
— Ah, é você. – falou antes de beber o conteúdo do copo de uma só vez. – Fazem seis meses? Oito?
— Por aí. Então, seu pai me falou que você andou fazendo umas bobagens. – enquanto se aproxima. – Posso me sentar? – apontando para uma cadeira ao lado do outro.
Jules sinaliza que sim, e o rapaz se senta ao lado do amigo.
— O velho já te falou o que ocorreu?
— Por alto, apenas. Mas queria ouvir de você a história.
Jules suspira pesadamente.
— A história vai ser longa e chata, quer um copo? – apontando para a garrafa de cognac.
Xavier nega, e o outro prossegue.
— Desde que nos casamos, eu e minha esposa moramos em Kanto, como você sabe. Naquela época ela ainda estava num estágio mais inicial da gravidez. Mas passou um pouco o tempo e a gente decidiu cortar as relações sexuais até que a criança nascesse, para evitar qualquer possibilidade de complicações, por menores que fossem. Uns poucos meses depois eu acabei indo num evento com alguns conhecidos e acabei conhecendo uma garota, e meio que ela começou a fazer parte do grupo em algumas outras saídas. Numa dessas saídas ela perguntou se eu não tinha interesse em me deitar com ela e bem, eu já tava com muita coisa acumulada, pensei "é só uma vez, que mal tem?" e acabei cedendo. A gente ficou junto naquela noite, usando camisinha e tal. Mas aparentemente a camisinha furou e –
— Tá, pode pular pro resultado, já sei o que acontece a partir daí. – Xavier interrompe.
Jules dá de ombros, serve mais um copo de cognac, entorna ele goela abaixo, e diz:
— Agora eu tenho duas potências do agronegócio querendo o meu couro e demandando mais do que apenas explicações.
— Bem, pra começar, você é um merda, me desculpa. – Xavier fala assim que o amigo termina. – Você realmente pisou na bola. Errou rude. Por mais que eu queira te ajudar, nessa situação não tem muito o que você possa fazer. Qualquer coisa que você fizer só vai atrasar o inevitável. É melhor você resolver isso de uma vez, antes que implique mais alguém.
O homem suspira, a baforada alcoólica e pesada, e diz ao rapaz:
— Mas resolver como? Me diz, vamos!
— Faça o óbvio: procure o perdão de sua mulher e da outra envolvida, tal qual de suas respectivas famílias, e pague o preço. Qualquer outra coisa só irá amargar ainda mais a situação. Não importa como você tente se esquivar disso, uma hora a conta chega. – Xavier fala com toda sinceridade possível, encarando o amigo com um olhar severo.
Jules se silencia. Parecia estar sem palavras, e o mais novo também não havia nada a acrescentar.
— É, você está certo. – enfim falou Jules, afastando de si o copo de destilado e se virando para encontrar o olhar de seu amigo. – Realmente não dá para fugir do que é nossa responsabilidade. Eu estava sendo covarde. – e fecha os olhos de leve, por um segundo, e quando os revela novamente estes se mostram marejados.
— E quem não é? Todos somos covardes de alguma forma.
O mais velho sorri de leve ao ouvir isso, e dá uma coçadinha na lateral da cabeça, como quem está envergonhado.
— Mas e você? – Jules fala, agora mais composto. – Tem que assumir sua bronca também.
Xavier, não entendendo a indagação, franzi o cenho e questiona ao amigo.
— Mas que bronca? Eu não tô entendendo o que você quer dizer.
— Xavier, todos nós sabemos que o filho da Amélie é seu. – o amigo comenta como quem não quer nada, meio brincalhão.
— Amélie tem um filho? Meu? O quê você pôs na bebida? – pergunta o rapaz, incrédulo.
Jules arregala os olhos, não parecia estar esperando aquilo. Passa a mão pela testa e em seguida pelo cabelo, respira fundo uma, duas, três vezes, e enfim fala:
— Você não sabia? Eu achei que ela tinha te contado, ela conversou com todo mundo que poderia ser relacionado antes de se mudar.
— Eu não sei nada sobre ela desde a formatura da sua turma, Jules. Ela não conversou comigo desde aquela época, parece que mudou o número de telefone e tudo mais. Sumiu. – o rapaz conta, ainda demonstrando estar avulso a situação.
— Pelo chifre do Rapidash, mas que situação... – o homem então parece organizar em sua cabeça o que dizer, apesar do cognac parecer surtir então seus efeitos. – Você se lembra de algo da festa?
— Não muito, só de chegar lá, conversar um pouco, alguém me oferecer algo pra beber e acaba aí. Me lembro apenas de acordar em casa no dia seguinte.
— Então... Ninguém nunca te falou o que aconteceu nesse meio tempo entre a festa e o dia seguinte? – esfregando as mãos no rosto, Jules segue a questionar.
— Não, sempre que eu perguntei desconversavam. Eu sempre achei que eu tinha feito algum papelão, isso inclusive me fez ter um receio de beber qualquer coisa alcoólica.
— Pois então, pra resumir a história pra você, Amélie em determinado momento se encontrava na mesma situação que você, vocês saíram para algum cômodo vazio e se conheceram no sentido religioso. Deu pra entender? – como uma metralhadora, o homem dispara em rajadas essa curta história, e ao terminar respira e espira como se tivesse tirado um peso das costas.
Xavier, inicialmente, entra em choque. Seu olhar perdido indicava o seu estado mental após ouvir aquela história. A partir de certo momento, uma certa inquietude começa a aparecer no rapaz, com tremedeiras e a boca se abrindo e fechando demonstrando isso.
— M-mas e-eu sou menor de i-idade! Era ainda mais n-novo! – gaguejando, começa a falar. – C-como que isso poderia acontecer?! N-não tinha ninguém pensando nisso? – Xavier parecia não conseguir formular direito suas frases, mas seu amigo conseguia compreender o que queria dizer.
— Acho que é por isso que ninguém falou... – murmura. – Infelizmente, todos cometemos um erro ao não ficarmos de olho em você naquele dia, e outro ainda maior ao esquecermos que apesar de fisicamente não parecer, você era só um adolescente, do tipo que não tinha contato direito com determinadas situações. E eu, no lugar de todos que não te falaram nada sobre, peço profundas desculpas por isso. – abaixa, então, a cabeça, um gesto para indicar seu pesar, antes de levantá-la novamente e começar a falar. – De toda forma, essa situação pesou bastante para Amélie, e aparentemente isso levou ela a se mudar para Dendemille, e descobrir estar grávida pouco alguns meses antes de sua graduação apenas fez com que ficasse mais convicta disso. Pelo que ela conversou com alguns amigos dela, até onde eu sei, a única pessoa com quem ela teve relações numa data mais plausível foi você.
Xavier, então, desmorona. Muita informação estava circulando em sua cabeça, muitas coisas estavam sendo ditas ali que eram completamente desconhecidas até então. Debruça-se pois sobre a mesa, e começa a chorar.
Jules se levanta, chega ao lado do amigo, e põe uma de suas mãos nas costas deste, como se para confortá-lo.
— Olha, eu sei que... É, eu não sou a melhor pessoa nesse momento, era pra ser uma conversa sobre a minha situação e virou isso aqui, afinal. Mas... Nós não temos muito o que fazer sobre essa situação, não neste momento. Sequer temos como falar com ela para averiguar direito a história. Você disse meses atrás que sairia em jornada. Imagino que você estar aqui em Lumiose é por causa disso, certo?
Xavier balança a cabeça, e murmura, bem baixinho, um sim.
— Então, você muito provavelmente vai ter que passar por Dendemille algum dia. Não se preocupe tanto por agora, tome um tempo pra pensar, pra se acalmar. E quando você passar por lá, e você irá passar, tome uma decisão, de preferência o mesmo tipo de decisão que me pediu para tomar. Mas, mesmo que tome outra, é compreensível, diferente de mim, você ainda é , bem, você sabe.
E assim, com as posições invertidas em relação a como a conversa começou, seguem ambos durante horas, o mais velho confortando ao mais novo.
Capítulo 9: Cidade da Luz I
As ruas com construções de diversos estilos, do clássico ao moderno, elegância e brutalidade, iluminadas pelos por algum motivo refinados postes de luz com formato de candeeiro para afastar o lusco fusco do fim da tarde. Indo e vindo pelas ruas e avenidas, pessoas e veículos compartilhavam o incrivelmente mágico momento conhecido como "horário de pico". Se alguém conseguisse manter o foco além dessas coisas, entretanto, poderia visualizar uma torre branca de formato peculiar cortando o céu da cidade, sendo este provavelmente o marco mais importante desta.
Saindo de um táxi, um rapaz para e fala algumas palavras com o motorista, antes de balançar a cabeça em confirmação e entregar algumas notas para o tal. O jovem, Xavier, caminha então para uma construção peculiar em meio ao caos urbano da cidade que merecidamente poderia ser chamada de "Cidade da Luz'.
Xavier se separou de Clis assim que chegaram na cidade, cujo nome é Lumiose. O rapaz apenas resolveria algumas situações na cidade e então sairia o mais rápido possível, enquanto a garota planejava aproveitar a estadia por um tempo um pouco mais longo. Visto a diferença nas agendas, ambos decidiram se despedir um do outro ali mesmo, e combinaram de, se possível, se reencontrarem em uns meses na própria cidade.
O rapaz a este ponto já se encontrava adentrando o terreno de um prédio antigo, mas bem cuidado. Com um estilo comum a um período de aproximadamente cindo décadas atrás, o prédio ostentava três andares e tinha como uma de suas características marcantes a presença de várias janelas grandes com a parte superior arqueada, num estilo que remetia ao clássico ou ao colonial. De cor bege e detalhes em verde, a construção também contava com uma pequena escadaria em sua fachada que levava a uma grande porta de estilo idem ao das janelas, com pequenas e bem cuidadas árvores ao lado desta, ocupando os pequenos espaços dedicados à natureza. Cercando tudo isso, uma cerca num amarelo escuro, meio morto.
Xavier, ao ver que o local estava aberto, entra no edifício. É recebido então paredes azuis e piso em azulejos brancos, um balcão, onde uma pessoa ( recepcionista, lhe parecia ) digitava algumas coisas num computador, e duas pessoas conversando em frente a uma estrutura que podia identificar como um elevador.
Ambos os envolvidos na conversa parecem perceber a chegada dele, visto que param a conversa e dirigem seus olhares para o rapaz. Um destes era um homem alto na casa dos seus trinta, quarenta anos, de cabelos pretos na altura dos ombros, meio bagunçados. Este usava um jaleco branco por cima de uma camisa social azul. Já a outra pessoa era uma jovem dos cabelos cor de trigo cuja a expressão fechou ao ver Xavier. Usando uma regata preta, saia vermelha e meia preta sete oitavos, o visual se completava com estilosos tênis de cano médio. O rapaz, por algum motivo, achava que ela lhe era familiar...
Falando mais algumas palavras para o sujeito, a garota então se põe em retirada, mas não antes de parar ao lado do rapaz e, com uma careta, dizer:
— Eu posso ter perdido para você nos estudos, mas não pense que você tem sequer o mínimo de competência para ser mencionado no mesmo espaço que eu no mundo dos treinadores! – com um "humpf!" ao final, ela novamente segue seu caminho, e deixa para trás um Xavier que não entendia o que estava acontecendo.
Dando de ombros, o rapaz vai até o sujeito mais velho, que solta uma risada sem graça ( provavelmente ouviu o que a garota havia dito para ele, pois ela não fez questão de manter a voz baixa ).
— Com licença, o senhor seria o professor Sycamore? – pergunta Xavier, para tentar tirar o clima estranho que permanecia no ar.
— Sim, sou eu mesmo. Você deve ser algum novo treinador, não é? Raro virem dois treinadores num mesmo dia nessa época do ano. – responde o sujeito. – Você deve ter vindo por alguma indicação, certo? Quase todo treinador de Kalos acaba passando por aqui em algum momento.
— Não foi exatamente por indicação, professor. – Xavier, meio sem graça. – Eu te enviei uma carta a alguns meses atrás com as respostas de um questionário e alguns documentos, e pouco tempo depois recebi uma carta do senhor, pedindo para que eu visitasse o laboratório dentro de alguns meses. – enquanto falava isso, retirou de sua bolsa um envelope e o entregou ao professor, que logo o abriu e retirou a carta ali presente para lê-la.
— Ah... Sim, realmente... – murmurava. – Pois bem, agora já sei do que se trata sua visita. Xavier, não é? Eu estava te esperando faz um tempo, mas não parecia que você iria aparecer. Veio quase no limite do prazo, pra falar a verdade. Bem, o assunto que tenho contigo é algo para ser conversado em outro andar. Me siga, por favor. – dizendo isso, seguiu rumo ao elevador.
O rapaz então se prepara para ir atrás de Sycamore, mas acaba parando ao perceber uma coisa.
— Er, professor? – chama, fazendo com que o outro parasse no meio do caminho. – Saberia me dizer quem era a pessoa que acabou de sair? Ela parecia me conhecer. – perguntou, sem jeito.
— Ah, o nome dela é Yvonne. Yvonne Chavez. Os pais dela são famosos. – e, com uma gargalhada leve, voltou a andar.
— Ah... – Xavier, atônito. – Obrigado, acho que agora sei quem é...
E então ambos já estavam dentro do elevador.
...
No terceiro andar do prédio, se encontravam Sycamore e Xavier no escritório deste último. A diferença deste lugar para o outro andar estava no fato do chão ser coberto por um enorme carpete vermelho, pelas paredes estarem cobertas de quadros e papéis que iam da pintura à literatura e pelos inúmeros objetos espalhados ao longo dos cantos do cômodo, sendo estes em principal livros, mas com espaço para exceções, como uma antiga vitrola que por algum motivo se encontrava em cima de alguns dos primeiros.
Sycamore, neste momento, se encontrava perto do fim do cômodo, em frente a uma mesa em madeira, toda ornamentada ( e atrás dessa havia uma confortável cadeira acolchoada, mas quem liga? ). Por fim, ao fundo disso tudo, uma janela posicionada exatamente no centro da parede completava o ambiente.
— Bem, Xavier, você foi chamado, como você bem sabe, como um escolhido para ser portador de uma Pokédex de teste oficial. Você concorda com os termos que foram antes estabelecidos, como a suplementação de informações e feedback construtivo, durante o período de dois anos?
— Sim, aceito.
— Então aqui está sua pokédex, faça bom uso dela, apenas assine este documento, por favor. – então Sycamore coloca um item na mesa e indica um papel para Xavier.
Assinado os termos, o jovem pega então o objeto que o professor ali colocou. Com formato de cartão e um design reminiscente ao de uma pokébola, o objeto era, no mínimo, curioso, visto que parecia poder se separar em dois.
— Essa pokédex é um modelo de testes, design totalmente kalosiano. Se você separar as duas extremidades esse "vidro" no meio vai projetar o que seria a tela. Interessante, não? – explica Sycamore, como se previsse que haveria alguma confusão. – Depois um dos meus assistentes vai te explicar melhor como o aparelho funciona, mas bem, guarde ela por enquanto, tem mais conversa pela frente.
O rapaz acena e guarda a Pokédex em seu bolso. O professor, vendo isso, assume uma expressão mais séria e começa a falar.
— Eu não creio que você saiba, mas eu sou um estudioso do fenômeno conhecido como "evolução" nos pokémon's. Estudei sob a tutela de um sujeito que é um expert na área, o professor Rowan, ao qual você já deve ter ouvido falar. No momento, eu estou tentando estudar uma variação curiosa do fenômeno que alguns chamam de "Mega-Evolução". Eu não consigo achar muitas coisas sobre isso ficando aqui em Lumiose, mas eu não posso me dar ao luxo de sair por aí procurando informações. Eu gostaria que você, durante sua jornada, servisse como meus olhos e ouvidos quanto ao assunto, e me informasse sobre o que você descobrisse. Lógico, eu não faria você fazer isso a troco de nada, mas creio que podemos combinar algum tipo de pagamento, quem sabe.
Xavier franzi o cenho.
— Olha, não que a oferta não pareça interessante mas... Eu gostaria de ter alguns pontos mais esclarecidos, se não se importa. Além disso, como que a gente manteria contato? – questiona, com alguma suspeita. – No mais, por quê eu?
Sycamore sorri.
— É natural que pareça estranho meu pedido, é natural... – diz. – Eu escolhi você por alguns motivos, alguns bons e outros nem tanto. Um deles é o seu perfil. Sua informação pessoal na carta que me foi enviada me indicava que você é formado, então creio que posso esperar um pouco mais de critério vindo de você em comparação com alguns de seus pares. Algumas respostas no questionário também me deixaram animado. Mas tudo isso são desculpas, no mais. O principal fator é que eu tenho um bom pressentimento quanto a você. No mais, você não será o único, algumas outras pessoas já estão me auxiliando em condições parecidas.
Xavier parece achar razoável a forma como foi respondido, e acena de leve em confirmação.
— E quanto ao contato? – questiona novamente.
— Eu tenho um amigo que vai vir aqui mais tarde, ele pode resolver isso. – com um sorriso forçado.
— Tudo bem então, acho que posso fazer isso. Gostaria de discutir o que receberei em troca, no entanto.
— Pois bem, podemos discutir todos os termos que você quiser mais tarde. Mas antes, eu tenho uma condição também, antes de mais nada. Eu sei que eu já estou pedindo essa ajuda, mas é necessário que essa condição também seja cumprida, então não há muito que eu possa fazer... Bem, eu vou te compensar por ela, entretanto, dependendo dos resultados, então seria interessante que você aceitasse.
– E que condição seria essa?
— Uma batalha pokémon. – e um leve brilho surge nos olhos de Sycamore, que leva uma das mãos ao queixo enquanto dá um sorriso maroto.
Nota de Autor sobre o Capítulo 8
*ALERTA DE SPOILER*
Tudo joia? Bem, aqui vai ser algo bem curto, né.
Ocorre o seguinte: eu demorei a escrever esse capítulo porque eu não sabia muito o que fazer nele, apesar de ter uma ideia geral, além disso eu tava meio coisado com a minha escrita, entre outras coisas.
Basicamente esse capítulo só existe pra uma única coisa: dar um pouco de atenção pra Clis por... Motivos, e pra dar um novo pokémon pro Xavier.
JURO QUE TEM UM MOTIVO SÉRIO PRA EU NÃO TER DESCRITO O BICHO QUE O XAVIER PEGA! Só não garanto que o motivo é bom.
Quanto aos jardineiros, um detalhe que eu deixei passar é a ferramenta que eles seguram nas artes, mas como isso impediria as piruetas, só finjam que eles largaram no chão por aí tá?
Bem, obrigado pela atenção, espero que tenham gostado do capítulo, e até a próxima!
Capítulo 8: Os Três Jardineiros
No dia anterior tivera sua última noite na casa da loira. As despedidas foram feitas, a moça lhe deu algumas coisas para levar como lembrança de sua presença nesse tão importante primeiro passo na vida do rapaz. Então, a caminho da saída norte de Santalune, o jovem revisava pela última vez seus planos antes de se encontrar com a pessoa com quem havia combinado de fazer parte do trajeto.
— Ei, Xavier! Aqui! – uma voz alta e aguda grita para ele.
De perto dos antigos postes de luz que ficavam em frente ao portal que levava para fora do munícipio, Clis, a jovem garota dos cabelos azuis e sorriso contagiante, vinha correndo em direção ao referido. Assim que chegou a distância de um braço, ela botou as mãos atrás do corpo e, inclinando-se um pouco, com um ar meio brincalhão, disse:
— E então, pronto para nossa pequena aventura a dois? – sorrindo como um gato.
Num suspiro meio exasperado, o rapaz, num movimento rápido, reforça sua pega na bolsa que levava consigo e se põe a andar, passos lentos, rumo a saída.
— O fraseamento, Clis... O fraseamento... – disse, deixando a menor para trás e fazendo com que ela tivesse que dar uma pequena acelerada para logo acompanhá-lo lado a lado.
Pouco tempo depois, já estavam do lado de fora do portão, onde uma estrada se estendia desde ali. Dos lados desta, campos de flores meticulosamente cuidados, e algo que pareciam arbustos bem podados de maneira quase labiríntica. Ao menos era o que os vários arbustos de copas "quadradas" que se conectavam e desconectavam numa desordem organizada pareciam aos olhos dos dois que acabaram de parar ali.
Ambos procuravam prosseguir sem parar muito para observar, mas a figura de uma mulher nos seus vinte e poucos anos vindo em sua direção lhes fez parar. Com cabelos castanhos relativamente organizados, mas com alguns tufos em posições estranhas ( seria algum tipo de penteado moderno? ), ela usava uma blusa preta e vermelha com colarinho e mangas brancas. Calça cinza, botas de couro e uma estranha pochete acoplada a um grande cinto marrom. Xavier suspira com pesar, para confusão de Clis, pois sabia o que vinha por aí.
— Ei, você não é aquele ex-aluno da Viola? Eu fiquei sabendo que você venceu o ginásio dela! Poxa, como você cresceu! – falava rápida como uma metralhadora. – Tá, admito, na verdade eu estava te esperando mesmo, Xavier! – sem dar tempo de eles sequer responderem. – Assim que eu fiquei sabendo que você estava na cidade eu vim correndo armar uma emboscada! Você é bonitinho, tem um histórico bacana e venceu o ginásio na primeira tentativa, e isso te faz um ótimo material para notícias! Ah, mas antes vamos botar algum papo em dia. E as namoradinhas, Xavi? Fiquei sabendo que você estava acompanhado no dia em que foi ao ginásio, mas não era de nenhuma bruxa velha não né? Cuidado com mulheres mais velhas, elas só querem se aproveitar de você tá? Ah, mas se for eu tá tudo bem, até porque você é tão fofinhooo! – nesse momento parece se lembrar da presença de Clis, pois logo se vira para esta. – Ah, então é você a danadinha que está acompanhando esse meninão? Você é uma gra-ci-nha! Que cabelo exótico e que rostinho lindo! Você é um charme, qual seu nome? Ah, não importa! Cuida bem do Xavi, tá? Ele é tímido, mas com um pouco de carinho e treinamento ele com certeza é material de casamento! – e faz uma pose acompanhada de uma piscadinha, como se isso ajudasse a dar poder de convencimento ao seu argumento.
Clis estava em choque.
— Errrrr... Moça, minha relação com ele não é essa, na verdade eu conheço ele mal faz três dias! Na verdade, quem raios é você?! Alguém me explica o que está acontecendo aqui?! – Clis, quebrada.
— Ah, mas tempo pra se conhecer vocês vão ter no resto de suas vidas! Não precisa ficar acanhada em falar comigo! – a mulher prontamente responde, parecendo ignorar a última parte da fala da garota.
Novamente, o rapaz que ali estava suspira desanimado.
— Essa, Clis, é Alexa, um monstro da curiosidade e da importunação. – disse enquanto apontava, cabisbaixo, os braços na direção da mais velha. – Se eu não te conhecesse bem, Alexa, eu teria chamado a polícia, e eu não estou brincando. – agora de braços cruzados, com a voz e pose mais admoestante que conseguiu.
— Ora, não seja assim! Seu chato, é por isso que nunca teve muitos amigos. – semicerrando os olhos e fazendo bico. – Eu vim aqui especialmente te ver! Não vai nem sequer me dar um abraço?
O rapaz, num ar de " fazer o quê, né? ", envolve a mais velha num abraço amigável, enquanto Clis tentava processar a sequência de eventos que presenciava ali.
— Mas então, Alexa. – já separado. – Você não pode ter vindo apenas para me entrevistar, normalmente você não tem tanto tempo assim. Qual que é o real motivo disso tudo? – questionou.
A mulher então corrige sua postura e assume um semblante um pouco mais sério.
— A parte da entrevista não é só uma desculpa, mas realmente é só um bônus. – começou. – Acontece que eu estava passando pela cidade e fiquei sabendo que você havia saído em jornada. É costume em muitos lugares amigos e parentes darem presentes para o treinador que decide partir, e eu gostaria de te dar um por causa disso. – falou, retirando da pochete um objeto retangular azul e amarelo, que parecia poder ser aberto.
Clis, que a esse ponto já estava melhor, parece reparar algo.
— Um Town Map! – exclama. – Parece ser um modelo recente... Pelo que ouvi os mais modernos atualizam suas informações em tempo real quando em locais que permitem o acesso a rede, enquanto que em locais onde o acesso é limitado ou nulo é possível, caso você saiba o nome do local, acessar o mais recente layout baixado pelo sistema da locação. Por causa do armazenamento ser grande, mesmo os mapas baixados são extremamente detalhados. – descreveu numa tacada só, quase sem parar para respirar.
Alexa sorri de orelha a orelha, e com a mão na cintura, fala, orgulhosa:
— A garota sabe do que tá falando! Esse modelo é o mais recente produzido na região, mal chegou ao mercado! Eu consegui ele diretamente da fabricante, graças a uma matéria bem sucedida sobre os produtos da empresa. Quando fui decidir o presente que te daria, me lembrei disso e conclui que seria o presente perfeito pra alguém em jornada.
— Estou sem palavras, Alexa. Realmente eu não esperava algo assim... É algo que provavelmente eu usarei muito. Obrigado, de verdade. – Xavier falou, meio espantado, um pouco acanhado.
— Não há de quê. Você sabe que isso não é nada, Xavi. – respondeu. – E então? Vamos a entrevista?
Xavier e Alexa então fizeram um bate e volta de perguntas e respostas quanto a jornada do primeiro, enquanto Clis procurava se distrair com os pokémons nativos que apareciam por entre as flores vez ou outra, visto que boa parte deles eram uma novidade para ela. Não tarda muito e a entrevista acaba. Se despedindo da mais velha, os dois mais jovens voltam a seguir viajem e prosseguem seu caminho cercados pelos campos floridos de ambos os lados da estrada.
— Então... Meio maluca ela né? – Clis começou.
— Meio? Completamente você quer dizer, né? – Xavier replica com uma gargalhada nervosa.
E assim começaram as conversas que se seguiriam por mais algumas horas pelo percurso. Em dado momento, chegaram a uma grande fonte com uma "estátua" de um ser intrigante no meio e outras duas de criaturas também estranhas nos extremos leste e oeste da fonte. Nas pontas, se tinha algo cabeçudo, com grandes olhos e boca tubular ( que aqui tinha função de cuspir água ) e três barbatanas com formato de espinho nas laterais do rosto. No corpo pequeno uma divisão entre a barriga e o dorso, que ostentava uma única barbatana. Para finalizar, um "rabo" se encontrava enrolado até o nível do fim da barriga. Já o ser representado na parte central da fonte, algo como uma concha bivalve aberta com um objeto arredondado em seu centro, segurado por algo similar a uma " almofada com seis apêndices ". A água que era jogada pelas estátuas na lateral caia de forma " cruzada " nos espaços vazios da concha, que transbordava então para o reservatório, causando um efeito bonito de se observar.
Por motivos óbvios, aquele local era perfeito para dar uma pausa no trajeto para descansar. Xavier e Clis então se aproximam da fonte, e se sentam a beira dela. Ambos pegam então suas bolsas e retiram delas algumas coisas, como garrafas de água e o que pareciam ser alimentos.
— O que você tem aí? – perguntou Clis olhando o embrulho na mão do rapaz.
— Um sanduíche, e você?
— A mesma coisa. É de quê? O meu é de Magikarp e maionese.
— Queijo e resto de carne da janta. Quer um pedaço?
— Pode ser.
E então assim que ele desembrulhou sua refeição ele estica a estica para ela , e a garota dá uma mordida. O rapaz dá de ombros e prossegue então para comer também.
— Não tem uma parada em Johto que morder algo que outra pessoa mordeu é como se fosse dar um beijo? – Xavier pergunta após pensar um pouco, depois de já ter comido meio sanduíche.
— Tem, mas não é como se isso tivesse alguma importância né? Eu sei que eu não ligo, e acho que você também não. – responde ela enquanto alternando entre seu próprio sanduíche e uma garrafa d'água.
— Bom ponto. – ele dá de ombros e segue comendo.
Não tarda, e ambos terminam suas refeições. Agora apenas tomando água, o rapaz pergunta para a menina:
— Vai alimentar seus pokémon?
— Não, fiz isso quando acordei e devo fazer de novo assim que chegar na próxima cidade. Se andarmos rápido dá, não é? E você, não vai alimentar os seus? – questiona de volta.
— Não vou, fiz isso antes de sair também. E quanto a chegar na próxima cidade, isso seria Lumiose, e bem, realmente até o fim da tarde a gente deve estar lá, mesmo contando com alguns atrasos. – replicou, agora fechando a garrafa e guardando-a em sua mochila.
A garota acenou com a cabeça em compreensão e, já com suas coisas em ordem, pega sua mochila e se levanta. O rapaz faz idem, e, após uma troca de olhares, ambos decidem seguir caminho.
Andando rumo a norte, logo são cumprimentados por uma estrada parecida àquela pela qual caminharam no começo. Junto a isso vinha também, lógico, mais campos floridos e labirintos de arbustos no entorno. E assim, com esse cenário, mais algumas horas de caminhada vinham para ambos.
Chegaram a uma bifurcação quando o sol já pendia mais para oeste, embora ainda alto no céu. O que dividia a estrada era um espaço arborizado, quase uma praça, não fosse pelo fato de ambos, ao menos dali, não conseguirem ver o fim dela. Ao se aproximarem, percebem um estande improvisado, colado ao que parecia ser uma cerca. Sem ninguém dentro, e com simplesmente um botão em cima de uma mesa, não havia como os dois saberem do que se tratava o lugar. Ou não haveria, caso não existisse convenientemente uma placa ao lado com algumas informações.
Xavier, convenientemente, decide não ler o que está escrito, e fala com sua companheira que iria checar o mapa para saber do que se trata a bifurcação no caminho. Clis, por sua vez, lê a placa com curiosidade.
" Participe do evento especial em comemoração do aniversário do jardim da rota 4! Ao apertar o botão, uma buzina soará e nossos jardineiros virão até você para lhe propor um desafio! Se você vencer, um prêmio será dado a você! "
Em sequência, diversas letrinhas miúdas se espremiam dando mais detalhes da promoção. Para Clis, pouco importavam essas coisas menores. Movida pela curiosidade e pelo espírito competitivo, ela se aproxima do botão.
— Ei, Clis, parece que essa bifurcação é só uma praça mesmo. Uma praça muito, muito longa. Quem diria que o presente da Alexa seria útil tã- – Xavier começa a dizer, enquanto se vira para falar com a amiga, mas corta suas palavras ao ver que a mão dela já descia sobre o tal botão. Logo, uma buzina ecoa por todos os lados.
Do meio das moitas, de diferentes direções, algumas coisas parecem acelerar por entre o verde, deixando folhas tremulando para trás. Logo, algo salta de cada um desses locais. Dando piruetas,, mortais, fazendo estrela e até, entre um e outro, andando de ponta cabeça, figuras que pareciam idosos se aproximavam de forma que cercavam os jovens por três direções distintas.
Logo eles param em uma determinada distância, tornando possível ver a aparência deles com mais clareza. Descartando quaisquer distinções físicas que eles possam ter, estavam todos uniformizados com um macacão verde oliva e um avental verde folha, na face um óculos de proteção e na cabeça um chapéu de safari em cor idem ao macacão. Nos pés, galochas de cano médio-alto.
Aquele que estava mais a frente dos jovens então se põe a falar.
— Foi um de vocês que tocou buzina? – começa. – Se sim, muito obrigado por participarem da promoção de aniversário do jardim! As regras são bem simples! Lute uma batalha contra nós três ao mesmo tempo e, se vencer, você leva um super prêmio! – falava com animação não condizente com a idade. – E então? Quem foi?
— Clis, acho melhor a gente falar que não fomos nós e-
— Moço, fui eu! – já falava a outra num tom alto, animado. Parecia gostar de eventos assim. – Podemos começar depressa?
O senhor dá uma pequena gargalhada com a pressa dela, enquanto Xavier expressava em sua face que havia desistido da causa.
— Mas é claro! Vamos rapazes, cheguem cá pra gente começar. – disse o jardineiro.
— Arh... Eu tô indo ali pro canto da estrada, ok? – Xavier sussurra ao mesmo tempo para a garota, e se retira rapidamente.
Então, logo, naquele espaço, se confrontando estavam três velhos e uma garota, todos com um brilho perigoso nos olhos. Todos ali presentes retiram então esferas de seja lá onde for que estivessem armazenando-as e liberam as criaturas que nelas estavam seladas.
Do lado dos jardineiros, haviam três seres idênticos. Crustáceos longos, com uns sessenta centímetros de altura, com garras ovais e três chifres na cabeça, que tinha seu corpo dividido ao meio em partes vermelhas e partes creme.
Enquanto isso, perto da Clis, uma criatura bípede e dracônica, de pouco mais de dois metros de altura do corpo alaranjado, exceto por uma área que pega da parte frontal do pescoço até a parte inferior da cauda, que era assim como em seu adversário da cor creme. O dragão tinha também asas em um tom de azul na parte interior. Com duas antenas e um pequeno chifre entre elas, ele até pareceria ameaçador se ele não tivesse uma cara boba. Com braços e pernas gordinhos e tendo três garras em suas respectivas mãos e pés.
Xavier arregalou os olhos para o que aparecia ao lado da companheira de viagem, assim como os jardineiros. O rapaz sabia bem que aquela criatura se tratava de um Dragonite, um pokémon extremamente raro e poderoso.
Com os lábios tremulando, um dos jardineiros fala:
— Amigos, apesar de estarmos contra algo assim, não devemos ter medo! A gente pode vencer!
— Sim, Sim! – os outros dois respondiam, tentando se animar.
Um pouco mais calmos, um deles pigarreia.
— Bem, parece que você não vai mandar mais nenhum pokémon a campo, não é? – falou. – Pois bem, então já iremos começar a luta. Eu irei jogar uma moeda para o alto e, quando ela cair, a luta começa, ok?
— Ok! Por mim tudo bem! – a garota fala enquanto junta as mãos.
O velho então faz como disse, e, tirando o objeto referido de um bolso, o atira para o alto. Todos estavam extremamente atentos com a moeda.
— Façam um cerco, rapazes! Corphish, use Vice Grip! – berra o líder dos jardineiros ao ver a moeda tocar o chão.
— Certo! – os outros respondem com prontidão, e ordenam seus pokémon.
— Harpuia, não desvie, apenas use Thunder Punch! – disse a Clis, praticamente ao mesmo tempo que tudo isso rolava.
O confronto entre o gigante e o pigmeu logo aconteceu, mas não houve milagre algum. O Dragonite com surpreendente velocidade logo desferiu um soco com seu punho ( ? ) agora coberto de faíscas. Um forte baque pode ser ouvido acompanhado de algo parecido com uma pequena explosão. O primeiro crustáceo já havia sido arremessado para longe.
— Aproveitem a chance, Corphish's! Vice Grip pelos dois lados! – gritavam os jardineiros que ainda tinham pokémon em campo.
— Apenas continue como você fez, Harpuia. – Clis ordenou, sem perder o sorriso "inocente" que em seu rosto estava.
Enquanto a batalha ocorria, Xavier assistia esse "massacre" quase de camarote ali no canto da estrada. Sentado, sua concentração estava toda na luta da amiga. Pensava consigo:
" Eu venci um ginásio? Pareço promissor? E do que isso importa, quando se tem gente que nem ela andando por aí? É uma diferença quase igual a entre monstros e pessoas, são níveis completamente diferentes! Mas dá pra eu chegar nesse nível um dia... Não dá? "
Logo, no entanto, percebe algo próximo a si e é retirado de suas reflexões. Ao virar-se para o lado, se encontrou olhando para um estranho ser que assistia a batalha, que logo percebeu algo de errado. O ser olhou para ele, e ele, para o ser, e ficaram se encarando, assim. Ou ao menos teriam ficado, se o rapaz não tivesse simplesmente tirado uma pokébola e encostado ela no ser, simplesmente o envolvendo em uma luz vermelha e o absorvendo para dentro. Em suas mãos, a bola mexeu uma, duas, e três vezes, antes de, com um clique e um brilho, parar de vez. Com um pequeno sorriso no rosto, o rapaz balança a cabeça positivamente e volta sua atenção para a luta, onde Clis estava, praticamente, terminando o massacre.
Neste momento dois Corphish's já se encontravam no chão em diferentes partes do espaço, e apenas um continuava de pé, aproveitando do seu tamanho diminuto para, por pouco, desviar dos golpes do oponente ao praticamente colar neste e passar por debaixo de braços e pernas.
— Para de brincar, termina logo, ok? – fala a Clis para seu pokémon, que grunhi inconformado com a acusação.
O Dragonite parece, no entanto, assumir uma nova postura na luta e, num piscar de olhos, já tinha seu punho eletrificado em contato com o oponente. Com o último crustáceo derrotado, a vitória, essa esmagadora, era de Clis.
Os envolvidos então retornam seus respectivos parceiros para suas esferas. Era contrastante os jardineiros pedindo desculpas pros seus enquanto Clis sorridente dava um doce para o dela e o acariciava por ter feito mais um bom trabalho antes de lhes voltar para os objetos.
Após um pouco de tempo, o suficiente pro calor da batalha desaparecer e qualquer sentimento aflorado se acalmar, os três mais velhos se aproximam de Clis, tal qual Xavier, que, vendo o fim da luta, ia devagar para o lado da colega.
— Bem, foi uma experiência bem... Diferente né? – suspira o mais falante dos idosos. – Pois então, você venceu o desafio, garota, e, logicamente, merece o prêmio. Aqui, tome. – e, tira dois embrulhos de um de seus bolsos, um bem compacto e outro mais comprido, mas fino num geral. – Aqui tem dois mil e cem pokédolares, além de um item chamado Poison Barb. Espero que faça bom uso de ambos. Sei que vai, afinal, você é surpreendente.
— Muito obrigada, muito obrigada mesmo! – dizia ela com os embrulhos nas mãos. – Ei, Xavier, olha meus prêmios! – inocente, mostrava seus ganhos para o rapaz enquanto sorria de ponta a ponta.
Xavier sorri meio embaraçado para ela, e, após jogar um pouco de papo fora com os três idosos e a menina, parte junto desta, que, neste dia, lhe lembrou que o caminho que iria percorrer era, sem duvida alguma, imensurável. E assim, ambos seguiam para a cidade de Lumiose, a maior cidade da região de Kalos.